De modo geral, as pessoas que procuram psicoterapia estão em sofrimento ou vivendo algum tipo de incômodo para o qual não encontram solução. Os pensamentos podem estar confusos, a autoestima baixa e a capacidade de reagir diminuída. A angústia é sinal de que algo não vai bem e, por mais estranho que possa parecer, é também uma oportunidade de transformação.
O processo de mudança, por sua vez, implica em alguma medida em uma ruptura, seja o fim de um relacionamento ou então a necessidade de romper com certas dinâmicas e modos de se relacionar, agir e perceber as situações. E nem sempre é fácil encarar certas rupturas, afinal, elas envolvem perdas e um grau considerável de imprevisibilidade, diante das quais nos sentimos inseguros e com medo de nos arriscar. No caso de pessoas traumatizadas, o medo chega a ser paralisante dificultando ainda mais a tomada de decisões e a capacidade de enfrentar mudanças necessárias.
Podemos dizer que uma das tarefas do psicoterapeuta é de acompanhar e apoiar movimentos de transição. E um dos elementos que ancora a possibilidade de transformar-se durante o processo terapêutico é a construção da confiança. A confiança pode ser entendida como uma capacidade de se conectar com o outro e se dispor a agir mesmo quando não se sabe ao certo quais serão os efeitos de determinada ação. A noção de confiança inclui, portanto, engajamento e indeterminação.
A confiança numa relação terapêutica não é algo dado, nem pode ser exigido de antemão. É necessário criar condições para que seja possível construir e cultivar a confiança e isso acontece a cada encontro. O psicoterapeuta precisa estar presente, atento e disponível para escutar não apenas as palavras, mas os gestos, as sensações e as variações emocionais experimentadas durante a sessão. É fundamental que a pessoa que está sendo atendida se sinta ouvida, acolhida, validada e segura. O encontro terapêutico envolve, portanto, um processo de sintonização afetiva. Ou seja, o psicólogo também está implicado naquilo que ele testemunha do relato de cada paciente e se aproxima da experiência emocional que se apresenta. E é através desse contato que é possível construir um caminho para a restauração da saúde e da vitalidade.
"Amparar o outro na queda: não para evitar que caia, nem para que finja que a queda não existe ou tente anestesiar seus efeitos, mas sim para que possa entregar-se ao caos e dele extrair uma nova existência. Amparar o outro na queda é confiar nessa potência, é desejar que ela se manifeste. Essa confiança fortalece, no outro e em si mesmo, a coragem da entrega." (Suely Rolnik)
Confiança e coragem andam lado a lado. Afinal, é preciso confiar que a mudança é possível e, ao mesmo tempo, ter coragem para se entregar a ela. A relação psicoterapêutica permite o acesso tanto a experiência da confiança quanto da coragem reverberando na criação de outras formas de ser e agir na vida como um todo.